quarta-feira, 30 de julho de 2014

Resenha do livro - A Visita


A obra do jornalista Alex Francisco relata a história de amor de Dalmo e Tales, cheia de desencontros, até que um deles é preso por um crime que não cometeu; uma inesperada visita os faz relembrar de momentos bons e ruins em suas vidas. 



O livro é escrito em forma de roteiro teatral e por isso é dividido em três atos.



Personagens da trama
  •          Dalmo
  •          Tales
  •          Cadu (Amigo de Infância de Tales).
  •          Inácio (Pai de Tales)
  •          Rosana
  •          Fernando/Nina Shine (Tio de Tales)
  •          Kléber (Traficante)


No Primeiro ato há cinco cenas que marcam o início da história.

Cena 1 – Julgamento
Dalmo é sentenciado com a pena de 12 a 30 anos de reclusão.

Cena 2  – Cela do presídio
Inácio arrasta Dalmo para a cela e quando está tudo escuro. Ele ouve uma voz embaixo da cama e logo Tales levanta-se. Dalmo não entende como o seu amado entrou naquele lugar, discutem por algum tempo; logo se aproximam de uma forma romântica e profunda e relembram o dia em que se conheceram.

Cena 3  – Calçada do bar gay
Tales naquela época não se percebia como homossexual e olhava na direção da entrada do bar para ver se tinha alguém por perto. A indecisão de entrar no bar permeava o seu ser. Dalmo entrou, ficou à porta, olhou o movimento da rua e acendeu um cigarro. Tales tentava parecer natural e Dalmo o observava. Depois de alguns instantes eles começaram a conversar. Inicialmente, Tales se mostrou avesso a qualquer universo, mas com o tempo o gelo foi quebrado e eles se beijaram.

Cena 4 – Cela do presídio
Os dois relembram a primeira vez que fizeram amor, no início do namoro, quando amavam-se de uma forma intensa e ao mesmo tempo romântica. Dalmo pega um poema que leu na biblioteca e escreveu um papel e o lê para Tales, que canta uma canção de Maysa. Dalmo relembra que na primeira vez que foram em um barzinho, Tales escolheu um bar acima de qualquer suspeita; nele conheceram Rosana, a dona do estabelecimento, que também era grande fã da cantora Maysa.

Cena 5 – Bar Mambembe da Rua Augusta
Eles relembram do dia em que foram para a Rua Augusta(movimentada rua de São Paulo).Tinham marcado de sair com um casal de amigos que lá moravam, mas que faltaram; acabaram parando no bar mambembe. Quando lá chegam, logo se sentaram para ver a apresentação de uma cantora. E Dalmo gostou muito do fato de ela ter cantado Maysa. A apresentação tem um intervalo. Tales e Dalmo batem palmas. A cantora espantada se aproxima. Rosana se apresenta a eles e logo conversam sobre Maysa, as diversas experiências que a noite proporciona, sobre decepções de amor, sobre o deslocamento de Tales naquele ambiente e o mundo gay. O show recomeça e passado algum tempo segue-se a trilha instrumental.  Dalmo e Tales caminham até o centro do palco. Dalmo pede Tales em namoro e um beijo intenso sela o início de relacionamento.

As cenas do Segundo ato marcaram o desenvolvimento da trama.

Cena 1  – Cela do presídio
Inácio reclama da cantoria e vai até a cela falar com Dalmo, que, aflito, pede para que Tales se esconda debaixo da cama. Inácio fala duramente com Dalmo por não aceitar que seu filho tivesse tido um relacionamento com ele. Inácio bate em Dalmo. Em seguida procura por algo na cela e encontra uma garrafa de uísque. Leva Dalmo ao diretor.

Cena 2  – Casa do Inácio e Tales
Dalmo vai até a casa de Tales, que se arruma para ir com ele ao cinema. Inácio chega e repara na mão dos dois, e grosseiramente pergunta de quem se trata; Tales diz ser um colega de trabalho. A discussão entre Tales e Inácio é iniciada. Logo, Dalmo sai. Depois de muita discussão entre pai e filho, Tales é expulso de casa e tem de reestruturar a sua vida de forma repentina.

Cena 3 – Cela do presídio
Dalmo relata que levou uns socos por terem encontrado a garrafa de uísque. Tales fica chocado com as coisas que o seu amado vem sofrendo na cadeia e não entende o porquê de seu pai ser tão cruel. Tales lembra que a sua mãe sempre adorou a noite e que o seu tio irmão de sua mãe também adorava. Dalmo pergunta para Tales se ele tem noticias do seu tio. Ele diz que nunca mais o procurou. 

Cena 4  – Boate/Camarim
Tales segue o tio e tem uma surpresa ao se deparar com a vida dupla dele. Eles conversam sobre a vida e Fernando diz ao sobrinho que a vida não é um conto de fadas, e que muitas vezes temos de escolher uma vida de aparência se desejarmos ter sucesso na vida profissional e com isso viver a sua outra vida sem grandes problemas. Disse também que não existe amor, mas sim momentos de prazer. Dá algum dinheiro para o sobrinho recomeçar a vida em outro lugar onde possa viver em paz. Tales reluta em aceitar o que o tio diz e também em ficar com o dinheiro. Tales no fim fica pensativo e com o envelope na mão.

Cena 5 – Casa de Dalmo
Dalmo e Tales discutem. Depois disso, Tales sai da casa de seu namorado decidido a dar um novo rumo a sua vida. Dalmo chora desesperadamente.

Cena 6 – Monólogo Tales
Tales relembra a discussão que teve com Dalmo, os momentos que viveu nos Estados Unidos e sua chegada ao Brasil. 

Cena 7 – Cela do presídio
Eles estão abraçados e Tales está chorando com a lembrança de como tudo aconteceu e de como o surgimento de Cadu, seu amigo de infância, modificou para sempre a vida deles. 

As cenas do Terceiro ato celam o desfecho da trama.

Cena 1 – Balada
Tales está sentado em um dos bancos da balada. Eis que surge Cadu com uma bebida na mão e dançando naturalmente no estilo da música. Ele se senta próximo a Tales e conversam sobre o passado, o que fizeram nesse tempo em que não se viram sobre o que ele fazia para viver, o perfil de alguns homens que lá estavam. Cadu oferece um pouco de droga em um saquinho para Tales e logo sai para conversar com alguém. Tales pega um pouco e cheira.  

Cena 2  –  Casa de Dalmo
Tales e Dalmo discutem de forma passional e, inconformado com o desprezo de seu agora ex-namorado, Tales logo sai em busca de algo, vai para a casa de Cadu, que foi facilmente achada porque ficava perto da balada, e Cadu era muito conhecido por ali.

Cena 3 – Casa de Cadu
Já na casa de Cadu, eles começam a conversar sobre a antiga relação de Tales. Em seguida eles brindam ao reencontro e começam a fazer amor em um ritmo selvagem e alucinante. Na manhã seguinte, Cadu impaciente acorda Tales e os dois começam a discutir; Tales sai dali sem chão diante do ocorrido. 

Cena 4  –  Casa de Dalmo
Alguns dias se passaram desde o ocorrido na casa de Cadu, Tales aflito confessa a traição a Dalmo e diz que se não fosse por ele não teria feito o exame de HIV. Dalmo reluta em saber os detalhes da traição e diz a Tales que o melhor caminho não é fugir e que tudo se faz tem consequências. Passado algum tempo, o envelope é aberto por Tales; o resultado do exame é negativo. Ambos vibraram de felicidade e se beijam romanticamente. A campanha toca insistemente e Dalmo diante da insistência logo vai ver quem é. Era Cadu, que disse precisar falar com Tales. Dalmo tenta expulsá-lo sem sucesso, mas Tales fala a Dalmo que aquele é seu amigo de infância, Cadu.

Dalmo fica indignado com a presença dele e pergunta como ele tinha cara para lá estar depois de tudo o que ele fez. Ele disse que devia muito dinheiro para uns caras e que não podia; aquele seria o lugar mais longe que ele conseguiu ir, e com o tempo conseguiria o dinheiro e iria embora. Cadu e Dalmo brigam. De repente surge Kléber com uma arma apontada para eles. Cadu e Kléber conversam sobre a questão da divida, Dalmo e Tales se protegem. Dalmo fala para ele os deixar em paz já que não tinham nada a ver com aquela questão. Em meio a esse ambiente de tensão total tiros são disparados. 

Cena 5 – Cela no presídio
Nessa última cena a repórter descreve detalhes do que teria acontecido naquele apartamento na região central de São Paulo. Depois de algum tempo, Dalmo é acordado por Inácio e se vê perdido diante do que teria vivido na noite anterior.

A mensagem trazida pela publicação é a seguinte: enquanto houver preconceito em relação à homossexualidade, muitos homossexuais estarão à mercê de um mundo que os obrigará a renunciar a sua verdadeira essência para poderem viver melhor em seus empregos e outros setores sociais existentes, e que amor é amor independentemente de quem sejam os protagonistas desse sentimento.

Também critica os ditos “guetos-gays” que podem ser cruéis e fazerem com que o sexo seja algo essencial na vida, e com que os sentimentos não sejam levados em conta, porque muitos têm medo de um envolvimento emocional mais profundo, com medo de traições ou de assumirem-se publicamente devido a pressões sociais.

Essa crueldade, existente nesses ambientes, só será diminuída quando a porta do armário for rompida. E muitos gays terem consciência que ao fazer isso à qualidade nas relações afetivas serão maiores e o que dará forças para lutar contra todo tipo de preconceito existente por parte da sociedade e da família.

O poema de Joél Gallinati Heim chamado “Desejo e Prazer” foi um dos trechos prediletos da obra por expressar que as emoções existem independentemente do que se dita como correto e normal em uma sociedade. Mostra que o amor é tecido por paixão, desejo, prazer e acima de tudo por perdão, solidariedade e fidelidade ao que se vive com a pessoa amada.

 “Meu corpo junto ao seu te aquece/ Braços te envolvem com firmeza
Mãos percorrem sua pele macia/ Línguas provam nossos sabores
Seu corpo se entrega ao prazer/Bem suave te penetro lentamente
Deslizando avanço toco seu íntimo/Um calafrio de tesão te percorre e
Você geme com uma volúpia intensa/Derramo meu leite num gozo pleno
Um instante a saborear o momento/Seu rosto iluminado com um sorriso
Vejo o desejo de quem quer mais/Então prometo ser seu para sempre.”.

As idas e vindas dos personagens expressadas através de seus sonhos e desejos mesclam-se com diferentes sentimentos em uma teia intrínseca de equipamentos que penetram na essência do ser, fazendo com que realidade e sonho sejam mesclados e dessa mescla intercalem-se momentos de lucidez e alucinação. Cabe ao leitor mais sensível a resposta para esse enigma traçado pelo autor.

 Alex Francisco

“A visita” foi escrito com dois finais. Um deles foi para o livro, publicado em 2013; o outro seguiu guardado para o teatro.

O espetáculo baseado no livro “A visita” que está sendo encenado no teatro Piccolo Teatro até o dia 23 de Agosto traz o desdobramento de um dos finais. Os atores estão preparados para as duas versões, mas só ficam sabendo qual será o final do dia no momento da cena. Então, o público que assiste e toda a equipe têm uma emoção e uma experiência diferente a cada apresentação.




Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas! 






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